há um pouco mais de um ano, quando parei de trabalhar na
hill’s native art em vancouver, levei comigo um relógio que tinha achado no
lá e há tempos estava parado (no tempo), pendurado num mural de
cortiça. era do jeito que eu gostava: os metais em dourado, pulseira de couro
marrom, pequenino, modelo femino clássico da Casio. tinha até um discreto
golfinho dentro, que me fazia lembrar da minha mãe – ela adora todos os animais
aquáticos.
estando aparentemente parado ali há anos e sem dono, trouxe
comigo pro brasil, onde mandei trocar as pilhas e tive, por um ano, um relógio companheiro.
tenho meus problemas com relógio – não gosto de me sentir
pressionada e o relógio te dá controle (e pressão) sobre o tempo, algo tão
abstrato pra mim. mas estar “na hora” é necessário quando se há
responsabilidades, compromissos, dependência de tempo.
só, que desde uns meses atrás, esse relógio tem fugido de
mim. a fivela se solta sozinha, ele abre e cai. Sempre brinquei quando isso
acontecia, “é o tempo me dizendo que não preciso ser controlada, não preciso
dele”. e o re-colocava.
hoje, fui no posto comprar cigarro. no caminho de volta,
senti meu pulso esquerdo nu. “caralho. o relógio caiu”. toquei o pulso, não o
encontrei. balancei o braço para ver se ele não tinha entrado nos casacos (já
aconteceu isso), nada. pensei em voltar, para tentar procurá-lo. lembrei que, quando sai
da conveniência do posto, deixei cair uma moeda. lembrei também do barulho do metal
batendo no chão. será que o relógio caiu naquela hora e eu não percebi?
entendi, enfim, que aquele foi o meu fim com aquele relógio. finalmente, acabou o meu tempo com ele.
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