Monday, 26 September 2011

fim dos tempos


há um pouco mais de um ano, quando parei de trabalhar na hill’s native art em vancouver, levei comigo um relógio que tinha achado no lá e há tempos estava parado (no tempo), pendurado num mural de cortiça. era do jeito que eu gostava: os metais em dourado, pulseira de couro marrom, pequenino, modelo femino clássico da Casio. tinha até um discreto golfinho dentro, que me fazia lembrar da minha mãe – ela adora todos os animais aquáticos.
estando aparentemente parado ali há anos e sem dono, trouxe comigo pro brasil, onde mandei trocar as pilhas e tive, por um ano, um relógio companheiro.
tenho meus problemas com relógio – não gosto de me sentir pressionada e o relógio te dá controle (e pressão) sobre o tempo, algo tão abstrato pra mim. mas estar “na hora” é necessário quando se há responsabilidades, compromissos, dependência de tempo.
só, que desde uns meses atrás, esse relógio tem fugido de mim. a fivela se solta sozinha, ele abre e cai. Sempre brinquei quando isso acontecia, “é o tempo me dizendo que não preciso ser controlada, não preciso dele”. e o re-colocava.
hoje, fui no posto comprar cigarro. no caminho de volta, senti meu pulso esquerdo nu. “caralho. o relógio caiu”. toquei o pulso, não o encontrei. balancei o braço para ver se ele não tinha entrado nos casacos (já aconteceu isso), nada. pensei em voltar, para tentar procurá-lo. lembrei que, quando sai da conveniência do posto, deixei cair uma moeda. lembrei também do barulho do metal batendo no chão. será que o relógio caiu naquela hora e eu não percebi?
entendi, enfim, que aquele foi o meu fim com aquele relógio. finalmente, acabou o meu tempo com ele.

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